Quando o maior crítico de nossas próprias ações, somos nós mesmos

 Quando o maior crítico de nossas próprias ações,  somos nós mesmos

Caros leitores, é com muita alegria que escrevo mais um artigo para a Brasil na Mão. E foi também com imensa alegria que recentemente recebi meus sobrinhos, vindos do Brasil, para uma visita aqui em Londres. E é com eles, que vou começar meu artigo deste mês.

Em uma oportunidade, eles que ainda são crianças, passaram a noite em minha casa, sem os pais, e, de manhã servi o tradicional café da manhã incluindo frutas. De repente, ouvi meu sobrinho mais velho falar: “tia, de manhã comemos uma frutinha né tia”? Eu, desprevenida, respondi: claro, se você quiser, sim. Mas, também conclui que a minha opinião naquele momento não era importante.

Nessa hora, estando longe dos pais, as crianças seguiram as instruções de casa, era quase como se eu estivesse escutando os próprios pais dizerem: “de manhã, come-se uma frutinha né”?

Bem, nesse exemplo, quase que inocente, a gente vê o quanto uma idéia vinda dos pais se ‘internaliza’ na psique da criança moldando as regras do dia-a-dia, principalmente quando os pais estão ausentes. A esta “vozinha interna” que muitas vezes nos observa e nos orienta, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, deu o nome de “super-ego”. Seria a voz da consciência, internalizada não somente pela opinião dos nossos pais, mas também por exigências culturais e opiniões de educadores. Seria como se literalmente tivéssemos uma caixinha em nosso cérebro dizendo: “isso você pode fazer, e isso não, isso está certo e aquilo outro está errado”.

Até aí tudo certo, as crianças sim internalizam muito do que existe ao seu redor cultivando palavras e aspectos dos pais e sociedade. Daí então resulta a importância daquilo que falamos para as mesmas. Imagine o leitor se uma criança cresce com as seguintes frases: “você não serve pra nada MESMO”, “NINGUéM gosta de você”,  “você é um fracasso e NUNCA vai conseguir ser NADA na vida”, e assim por diante. Terrível não? O pior de tudo é que o adulto mais frente, vai crescer achando mesmo que nada do que ele faz está certo, e muitas vezes pode se tornar um super crítico de si mesmo.

Pois bem, termos uma auto-crítica saudável e consideração com nossos pais e regras da sociedade é não somente normal como algo desejável. Mas se a crítica vinda de nós mesmos se apresenta de uma forma severa e contínua, aí sim, é hora de prestarmos atenção e checarmos se esse “super-ego” não é punitivo demais conosco.

Algumas perguntas interessantes para serem feitas a nós mesmos, nesses casos, são as seguintes: de onde vem essa crítica? Quem geralmente me criticava desta forma? É cabível esse pensamento severo ou é algo da qual eu já estou familiarizado? Esse diálogo interno é uma forma de se conectar com a fonte dessas palavras e é o início de um questionamento.

Enfim, essa “vozinha que fica no nosso ouvido“ só não é construtiva quando o que ficou internalizado são frases severas, punitivas e negativas impedindo nosso crescimento na fase adulta.

E pra finalizar, ninguém pode é claro refazer ou mudar as nossas experiências passadas mas podemos sim, olhar pra elas e remoldá-las, tomando consciência de como elas nos influenciam, abrindo assim novas possibilidades para diferentes escolhas.

Por: Cristina Durigon