Entrevista da capa: Sueli Lopes – Escritora brasileira

 Entrevista da capa: Sueli Lopes – Escritora brasileira

Nossos Outonos…

Sueli Lopes de Oliveira é escritora, copywriter, co-writer, ghostwriter e também atua como palestrante e ministra oficinas e workshops, pois trabalhou no Brasil em projetos educacionais, culturais e filantrópicos, nos quais, dentre outros, usou a educação para ajudar pessoas vulneráveis em dependência química ou menores infratores.

Ela coordenava projetos em clínicas de recuperação e até na antiga FEBEM, oferecia cursos de línguas, seminários educacionais e apresentações de teatro, com o intuito de contribuir na recuperação de jovens e adolescentes.

Apaixonada pela escrita, foi despertada muito cedo em sua vida, e vai nos contar um pouco mais de sua trajetória.

 

Sueli , por favor,  nos conte como começou sua trajetória como escritora.

Eu sempre gostei de trazer à existência algo novo por meio da escrita. Com o tempo, me interessei mais pela forma criativa e humanizada, aquela que é capaz de gerar emoções e conexões com o leitor, ou seja, a que vai na contra-mão da impessoalidade. Apaixonei-me pelos livros ainda criança,  numa escola rural, de pau-a-pique inclusive, no sertão de Goiás, resultado de um projeto de minha mãe, o qual libertou quase uma comunidade inteira do analfabetismo. Ali eu descobri o mundo da escrita e me apaixonei pelo mundo dos livros.

Comecei a contribuir nas festas, nas rezas do sertão, com aquela comunidade rural. Eu tinha apenas 5 anos de idade, e ficava ali, em lugar separado, lendo para aqueles adultos sedentos de ouvir algo diferente, algo que acrescentasse na vida deles. E tem um texto muito especial que me marcou muito, e as pessoas adoravam ouvir a leitura dele.

É muito humanizado, de Humberto de Campos (Academia Brasileira de Letras) e é conhecido como: “Meu cajueiro”:

“(…) Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica.

Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito.

A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido.

Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.

Adeus, meu cajueiro! Até à volta!

Ele não diz nada, e eu me vou embora.

Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida.

E estou em S. Luís, homem-menino, lutando pela vida, erijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda.

São os primeiros cajus do teu cajueiro.

São deliciosos, e ele te manda lembranças…”;

Naquela época, também existia o “correio elegante”, uma maneira singela e simples de as pessoas mandarem mensagens escritas nas festas. Eu era a “escrevedora” delas e conseguia transmitir  nos bilhetes e cartas, a pureza dos sentimentos de cada uma.

Com nove anos eu fui morar com meu avô, um homem muito inteligente e culto. Ele também deixou seu livro escrito e eu o estou editando. Em breve terei o prazer de apresentá- lo a vocês. Meu querido avô, além de ser topógrafo e agrimensor, era apaixonado por livros e tinha uma vasta biblioteca, o que me fascinou e incentivou a aprimorar minhas leituras. Ali eu conheci Machado de Assis, José de Alencar, Dostoievski, Gabriel García Márquez, Guimarães Rosa, Víctor Hugo, dentre outros.

Por paixão, estudei Letras, tornei-me professora, especializei-me em Literatura Comparada, em Salamanca-Espannha e me dediquei à essa carreira, inclusive na PUC-Go e UFGo.

Também desenvolvi projetos de intercâmbio e seminários, sempre voltados à cultura, literatura e linguística; tive ainda a honra de coordenar uma campanha para a abertura de uma nova biblioteca em Goiânia.

Eu acredito que a Arte é um veículo capaz de gerar alegria e cura na humanidade, como aconteceu no mundo pós-guerras, por exemplo. Os teatros lotaram, foram instrumentos de ascenção do mundo decaído e depressivo. As pessoas precisavam se reerguer, e a Literatura, as Artes, o teatro contribuíram sobremaneira. Também acredito que os livros, as narrativas, são veículos que trazem emoções e essa ‘Catarse’ ou ‘descarga emocional geradas’ no leitor são, em última instância, um processo de cura.

 

A ideia de escrever um livro:

Eu comecei a escrever crônicas, contos e posteriormente comecei a trabalhar como co-writer. Com isso, escrevi muitas histórias e muitos livros, em parceria com outras pessoas. Até que eu tomei coragem e comecei a escrever o meu primeiro livro, “Nossos Outonos.” Comecei a escrevê-lo no início da pandemia. Eu entendi que naquele período de restrição, quanto escrever é também uma terapia, assim como é uma forma de trazer esperança. Grandes livros foram escritos em tempos de pós guerra e pós-pandemias.

Nos últimos seis meses eu realmente me dediquei, trazendo a memória todos os estudos, momentos e passagens que me ajudaram a desenvolver este trabalho, o qual ficará marcado para sempre. Especialmente naquele outono (início da pandemia), eu comecei a meditar sobre os ciclos da vida, e com muita pesquisa, consegui expressar todo meu conhecimento (não só de livros, mas de vida, dos lugares que visitei, das pessoas que conheci, meu conhecimento de mundo).

Com três partes diferentes, “Nossos Outonos “é detalhista e em uma delas, nas ‘Crônicas do Cotidiano’, eu tive como objetivo transmitir ao leitor o quanto os detalhes são a chave de algumas transformações; além de mostrar o poder do “story telling.” Até a Universidade de Harvard já fez estudos que comprovam o quanto somos criados com pré-disposição para ouvir e contar histórias. O mesmo estudo mostra que qualquer profissional, com habilidade para contar narrativas está à frente! Histórias falam de sentimento e, por isso, conectam.

Dentre as citações do livro, há uma de de Carl Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

A última parte de minha obra, “Outono da Escrita”, é totalmente educativa e traz ensinos importantíssimos sobre o ato de escrever, e o desbloqueio da criatividade. Portanto, é uma excelente fonte de pesquisa para quem produz conteúdos para as redes sociais, por exemplo.

Em resumo, “Nossos Outonos” parte de uma bela metáfora e reflexão sobre os ciclos da vida, mostra os poder do “story telling” na prática, e conduz o leitor a “sair da ilha”, desbloquear a criatividade e mostrar caminhos para se expressar por meio da escrita.

No livro “A Jornada do Escritor”, Christopher Vogler (uma das minhas fontes de pesquisa) compara os escritores aos xamãs. Da mesma forma que estes viajam à outra dimensão e trazem cura às tribos, aqueles também o fazem. Nossas metáforas tratam de questões universais, e é assim que eu me conecto também quando escrevo, da forma mais humanizada possível. Eu me encontro e me “desnudo” em minha escrita, por isso o leitor se identifica ali. As emoções que deixo, encontram as emoções e os sentimento do leitor, isto é conexão!

Textos frios, “engessados”, só informam, mas não tocam ninguém. A mesma parede colocada na hora de escrever, bloqueará as emoções de quem lê. Eis a grande diferença da escrita afetiva e humanizada.

 

Como você reage a elogios ou críticas?

É sempre muito bom receber elogios, e melhor ainda é ter os pés no chão, e não se deslumbrar com eles, pois isso só alimenta o ego. Sou muito grata a tudo que ouço  e isso me estimula e me dá forças para escrever os próximos textos que virão, contudo com muito equilíbrio, eu não dependo de elogios para seguir adiante.

Quanto às críticas, sou muito aberta a recebê-las, porém, da mesma forma que os elogios não me influenciam no sentido de alimentarem meu ego. Elas não têm nenhum poder de me parar. Se forem construtivas, sempre as acolher.

Pode ser um jargão, mas acredito que é “melhor feito do que perfeito”, e que a excelência adquirimos passo a passo, com a prática, durante a jornada. Quando nos decidimos a expor nossa contribuição ao mundo, precisamos estar preparados para receber as críticas e fazer delas um desafio para sempre melhorarmos. Sempre haverá um grupo de “CRÍTICOS DE PLANTÃO”, incapazes de produzir algo, gastando o tempo em tentar destruir quem produz, isto é fato. De verdade, as críticas que tentam me destruir, tornam-se uma contribuição para que eu cresça e faça melhor ainda, elas não me abalam, elas me fortalecem; da mesma forma que os elogios não me envaidecem.

 

Qual foi a finalidade de escrever esse livro?

Cumprir minha missão e, principalmente, deixar um legado, colaborar para um mundo melhor, pois acredito que a escrita tem essa capacidade. Escrever é a minha forma de contribuir com o mundo, e assim, para o futuro eu quero me firmar como escritora, bem como promover seminários, oficinas, workshops e cursos para ajudar pessoas que têm dificuldade de organizar as ideias no papel. Desejo não parar de produzir e cooperar, sempre melhorando, com dedicação à pesquisa de campo, o que sempre me acrescenta e me inspira.

Eu amo pesquisar pessoas, estar com elas, descobrir e valorizar suas histórias. Afinal, um livro precisa, de verdade, falar com o leitor, ensiná-lo, curá-lo, transformá-lo.

Eu espero que você se encontre ao ler meu livro Nossos Outonos, realmente eu desejo que você encontre o seu lugar nesta obra, porque tem lugar para você. Ele foi escrito para você!

Que você “saia da ilha.”

E assim foi um prazer ter contado um pouco da trajetória de Sueli Lopes, uma mulher batalhadora, inteligente que deixa seu legado brilhantemente. Parabéns pela iniciativa de resgatar histórias, grandes escritores que, com a correria da modernidade, estavam esquecidos, mas que com a sua ajuda eles voltem a brilhar. Que muitas estações venham para acrescentar na vida de muitos e que “Nossos Outonos” seja um marco de muitas estações que virão.

 

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