Entrevista da capa – Gabby Cardoso ADV BR UK 

 Entrevista da capa – Gabby Cardoso ADV BR UK 

Gabby Cardoso é mais do que uma advogada: é uma voz ativa na defesa de famílias, imigrantes e empresários que buscam segurança jurídica no Reino Unido. Nascida em Maputo, Moçambique, de nacionalidade portuguesa, vive no Reino Unido desde 2005 e construiu uma trajetória marcada por coragem, dedicação e propósito. Casada e mãe de três filhos, que são sua maior motivação e inspiração diária, Gabby equilibra a vida familiar com uma carreira de impacto. Fundadora da ADV BR UK e idealizadora do Centro de Apoio Luso-Brasileiro (CALB), ela alia conhecimento técnico à sensibilidade humana, transformando desafios legais em soluções reais. Nesta entrevista exclusiva, compartilha sua história, valores e visão sobre o papel do Direito como ferramenta de impacto positivo na vida das pessoas.

Inspiradora e determinada, Gabby Cardoso revela nesta entrevista como transformou sua vocação no Direito em uma missão de impacto para a comunidade luso-brasileira no Reino Unido.

O que a motivou a escolher se especializar em Direito Internacional, Imigração e Direito de Família?

Sempre tive uma ligação muito forte com o Direito Internacional, o Direito de Família e o Direito de Imigração. São áreas que vão além da técnica jurídica: elas lidam diretamente com a vida, os sonhos e os desafios das pessoas.

No Direito Internacional, por exemplo, tenho a oportunidade de ajudar brasileiros que vivem fora do país em momentos muito significativos, como casamentos, divórcios, registros de filhos e também em contratos que envolvem diferentes países. É gratificante poder facilitar processos que unem histórias e famílias, mesmo quando atravessam fronteiras.

Já o Direito de Imigração surgiu como um chamado natural, diante da grande demanda de pessoas que buscam oportunidades e segurança em Portugal, no Brasil ou aqui no Reino Unido. A cada caso, sinto que não estou apenas orientando juridicamente, mas também contribuindo para que alguém dê um passo importante na realização de seu projeto de vida.

O Direito de Família, por sua vez, é uma verdadeira paixão. Ele acompanha todas as fases da existência: nascimento, casamento, adoção, guarda de filhos, divórcio, sucessão e testamentos. Cada processo traz consigo emoções, histórias e desafios únicos, e poder oferecer suporte nesse contexto, inclusive como mediadora e árbitra, é algo que me move profundamente.

Além disso, também atuo em áreas como o Direito Imobiliário e o Direito Empresarial, onde encontro a mesma motivação: usar o conhecimento jurídico para transformar a realidade das pessoas, seja auxiliando investidores, seja apoiando empresários em suas trajetórias.

Para mim, o Direito é mais do que uma profissão — é um meio de gerar impacto real e positivo na vida de quem nos procura.

 

Gabby, como começou sua trajetória na área do Direito e há quanto tempo atua nessa área e quais são as suas especialidades?

Minha trajetória no Direito surgiu de forma inesperada, mas logo se transformou em uma verdadeira paixão. Antes de me dedicar à advocacia, cursei Administração e depois Contabilidade, áreas que sempre me atraíram pela ligação com o mundo dos negócios.

O Direito entrou na minha vida como um desafio. Na época, eu tinha uma imobiliária e precisei lidar com um caso de despejo. Durante o processo, fui questionada por um rapaz que dizia conhecer a lei e afirmou que eu não tinha o direito de dar o notice de 60 dias no contrato. Aquilo me marcou profundamente — não pelo detalhe jurídico em si, mas porque despertou em mim o desejo de estudar o Direito de forma completa, compreender a fundo as leis e me tornar capaz de atuar com segurança e autoridade em qualquer situação. Voltei para casa e disse ao meu marido: “Eu vou fazer Direito”. Foi o início de uma grande virada na minha vida.

Costumamos dizer que “o bichinho do Direito nos morde no primeiro semestre” — e comigo foi exatamente assim. Descobri não só o gosto pelo estudo, mas também uma oportunidade valiosa: ajudar pessoas em momentos decisivos, oferecendo clareza e orientação em situações em que muitas vezes elas se sentem perdidas.

Já são oito anos de atuação na advocacia, sendo mais de cinco anos como advogada no Reino Unido, também registrada junto à SRA (Solicitors Regulation Authority). Minhas principais especialidades são o Direito de Família, no qual encontro grande realização por lidar com questões que tocam diretamente a vida das pessoas, e o Direito Empresarial, que conecta minha formação em Administração à prática jurídica.

Hoje, posso dizer que sou verdadeiramente apaixonada pelo que faço. Para mim, o Direito não é apenas profissão, mas vocação: é a oportunidade de unir conhecimento técnico com sensibilidade humana para transformar realidades.

Quais são os serviços prestados pela ADV BR UK?

Na ADV BR UK buscamos atender de forma ampla a comunidade luso-brasileira que vive no Reino Unido. Diferente do que acontece no Brasil ou em Portugal, onde os advogados costumam se especializar em áreas específicas, aqui somos muito poucos — e a demanda é grande e diversificada. Por isso, decidi estruturar um escritório capaz de oferecer suporte em diferentes ramos do Direito, sempre com qualidade e responsabilidade.

Atuamos fortemente em Direito de Família, Direito Sucessório, Direito Empresarial, Direito Notarial (procurações, escrituras, certificados digitais, traduções juramentadas), além de Direito Imobiliário e Direito de Imigração, que é uma das áreas de maior procura. Também auxiliamos em questões de Direito do Consumidor, que aqui não é tão amplo quanto no Brasil, mas ainda assim representa uma necessidade frequente para os imigrantes.

Nosso compromisso é claro: oferecer à comunidade o suporte jurídico de que ela precisa em sua realidade no Reino Unido. Quando surge uma demanda em que não atuamos diretamente, encaminhamos para profissionais de confiança, garantindo que ninguém fique sem resposta ou sem apoio.

 

Direito Internacional

Quais são os casos e conflitos jurídicos mais comuns envolvendo brasileiros residentes no Reino Unido?

No âmbito do Direito Internacional, as demandas mais frequentes estão ligadas ao Direito de Família. São muito comuns os casos de divórcios e disputas relacionadas à guarda de filhos — especialmente quando um dos pais busca a guarda unilateral, já que, em regra, a guarda costuma ser compartilhada. Essas situações exigem não apenas conhecimento jurídico, mas também sensibilidade para compreender o impacto emocional que trazem às famílias.

Além disso, há uma procura significativa na área de contratos internacionais, em razão das transações e relações jurídicas que envolvem mais de um país. Também lidamos com casos de fraudes, que infelizmente afetam muitos imigrantes, exigindo orientação rápida e eficaz para que seus direitos sejam preservados.

 

Direito de Família

Como lidar com os aspectos emocionais e jurídicos em casos de família, incluindo divórcio, guarda de filhos e serviços de casamento em Portugal, especialmente envolvendo pessoas de nacionalidades diferentes.

Lidar com os aspectos emocionais e jurídicos em casos de família é sempre um grande desafio, porque cada situação traz histórias, sentimentos e pontos de vista distintos. Atendemos tanto homens quanto mulheres, e cada um chega com demandas diferentes. O nosso papel é proteger e orientar o cliente, seja qual for o lado em que ele se encontra.

É importante lembrar que nem sempre os conflitos estão ligados apenas à violência doméstica — embora este seja um tema recorrente e delicado, principalmente em relação às mulheres. Muitas vezes, vemos situações em que ambas as partes se confrontam, e é preciso reconhecer a corresponsabilidade, o que chamamos de cross-duty.

Nesses casos, a mediação e a escuta atenta são fundamentais. Buscamos sempre trazer equilíbrio, aconselhando os clientes a agirem com bom senso, evitando que as emoções se sobreponham ao que é realmente melhor para a família e, sobretudo, para os filhos. Muitas vezes, isso significa dizer a verdade que o cliente precisa ouvir, mesmo quando não é exatamente o que ele gostaria de ouvir.

 

Perguntas gerais

Em sua opinião, quais são os maiores obstáculos que a sociedade enfrenta em termos de acesso à justiça?

Um dos maiores obstáculos para o acesso à justiça no Reino Unido é, sem dúvida, o alto custo do sistema. Embora exista o Legal Aid, ele se aplica apenas a algumas situações específicas, o que deixa muitos casos importantes de fora.

Estamos diante de um dos sistemas jurídicos mais caros do mundo. Não são apenas as cortes que envolvem custos, mas principalmente o trabalho dos advogados. Aqui, cada atividade é contabilizada em sessões de seis minutos — enviar um e-mail, fazer uma ligação, elaborar um parecer — tudo isso gera um novo invoice para o cliente. Essa forma de cobrança, somada à complexidade dos processos, faz com que muitas pessoas se sintam desestimuladas a buscar seus direitos.

Por isso, o fator financeiro acaba sendo a maior barreira para que a justiça seja acessível de forma plena a todos. É um desafio constante equilibrar a necessidade de manter a estrutura do sistema e, ao mesmo tempo, garantir que as pessoas tenham condições reais de serem ouvidas e defendidas.

 

Poderia explicar o papel e as atividades da ONG CALB vinculada à empresa e como ela contribui para a comunidade?

A CALB – Centro de Apoio Luso-Brasileiro nasceu de uma necessidade prática e também de um compromisso ético. No escritório, atendíamos muitas mulheres em situação de violência doméstica, mas não podíamos oferecer consultas pro bono sem estar vinculados a uma charity, como exige o código de ética do Reino Unido. Assim, criamos a CALB para que esse trabalho pudesse ser realizado de forma transparente e dentro da legalidade.

A ONG é patrocinada pela ADV BR UK e funciona principalmente através da dedicação de profissionais que doam o seu tempo e conhecimento. Inicialmente, o foco era apenas na consultoria jurídica, mas logo percebemos que essas mulheres precisavam de muito mais. Foi então que agregamos ao projeto psicólogos, coaches, intérpretes, tradutores, profissionais de RH, entre outros, ampliando o acolhimento e oferecendo um suporte verdadeiramente multidisciplinar.

Hoje, a CALB atende mulheres, crianças e também homens em situação de violência doméstica, reconhecendo que todos podem ser vítimas dessa realidade. Oferecemos tanto atendimentos gratuitos quanto vagas acessíveis, porque entendemos que o tempo e a atenção dedicados a essas pessoas são um bem precioso e transformador.

Mais do que uma instituição, a CALB representa a nossa forma de retribuir à comunidade, garantindo que quem mais precisa tenha acesso não apenas a orientação jurídica, mas também a apoio humano e integral para reconstruir sua vida.

Quais são seus próximos projetos ou sonhos na carreira?

Tenho vários projetos em andamento, mas um deles me traz uma expectativa especial: a criação de uma Câmara de Mediação e Arbitragem aqui no Reino Unido.

No passado, já tive a experiência de fundar uma Câmara Arbitral, e pude ver de perto a importância desse recurso. A arbitragem tem um peso muito grande, especialmente porque permite resolver conflitos de forma mais rápida, eficaz e menos desgastante do que um processo judicial tradicional. Aqui no Reino Unido, essa prática é ainda mais valorizada, já que muitas vezes é exigida uma negociação ou etapa pré-processual antes de recorrer diretamente à Justiça.

Por isso, planejo fundar essa Câmara de Mediação e Arbitragem para atender à comunidade, oferecendo um espaço que priorize o diálogo e a solução pacífica dos conflitos. É um projeto que pretendemos concretizar muito em breve — se não até o final deste ano, certamente no próximo.

A mensagem que eu deixo é que o advogado não deve ser visto como uma despesa, mas como um investimento. Quando você tem clareza sobre o que precisa fazer e conta com a orientação correta, consegue ir muito mais longe e alcançar resultados que, sozinho, poderiam ser inviáveis.

Muitas pessoas acreditam que podem resolver certas questões sem apoio jurídico, mas essa escolha, muitas vezes, custa caro: pode significar perder um processo ou deixar de alcançar o êxito simplesmente por falta de conhecimento técnico. Por isso, meu conselho é: procure sempre uma assessoria jurídica qualificada.

É fundamental verificar se o profissional é, de fato, advogado. Consultem os registros oficiais: a OAB no Brasil, a OA em Portugal e a SRA aqui no Reino Unido, que mantém a listagem oficial de advogados licenciados. Esse cuidado evita que se receba aconselhamento de pessoas sem habilitação legal, o que pode colocar em risco direitos e oportunidades.