As disfunções sexuais

 As disfunções sexuais

Olá queridos leitores!
Já estamos em Julho e nesse mês, posterior ao mês dos namorados, vou abordar um tema que afeta inúmeros casais e que ainda pode ser tabu para muitos: As disfunções sexuais.
Como sou ginecologista, escrevi sobre as disfunções sexuais femininas, mas saibam os rapazes que a disfunção sexual masculina também é muito comum e tem tratamento! Não sofram desnecessariamente, procurem ajuda de profissionais capacitados!!

Vou começar com a disfunção sexual feminina.

Esse é um assunto extremamente importante e que afeta 40% das mulheres no mundo em alguma fase de suas vidas. No Brasil, essa queixa é comum entre 13-75% das mulheres, variando conforme o estudo.

E o que é disfunção sexual?

A disfunção sexual (DS) relaciona-se a dificuldade em sentir satisfação sexual em atividades sexuais não coercivas, isto é, quando há consentimento de ambas as partes.
Para ser caracterizada como DS é necessário ser recorrente, durar vários meses e ser acompanhada de sofrimento. Portanto, os critérios para diagnóstico envolvem queixa de disfunção frequente, que dura seis meses ou mais e que causa desconforto (sofrimento) pessoal. Isso significa que, mesmo que a mulher refira uma alteração na resposta sexual, o médico só a investigará quando ela disser que isso a incomoda e que ela deseja que se faça uma abordagem. Vale ressaltar aqui que as expectativas irreais de um dos parceiros, a discrepância do desejo sexual entre parceiros e a estimulação sexual inadequada não integram os critérios válidos para o diagnóstico de DS.
É importante salientar que o padrão de funcionamento sexual adequado é subjetivo, e é definido pelo próprio indivíduo como sendo satisfatório ou não. Vale destacar que não existe um padrão normativo que classifique a função sexual como normal ou anormal. Muitas vezes os mitos e crenças sobre a sexualidade e o orgasmo feminino podem prejudicar a vida sexual de muitos casais.

Aqui vão alguns exemplos de “fake news” que são responsáveis por muito sofrimento e angústias desnecessários:

• Há diferenças entre o orgasmo vaginal e o clitoriano;
• O casal precisa chegar ao orgasmo junto;
• Se não tiver orgasmo, a relação não foi boa;
• As mulheres demoram mais a sentir excitação e a atingir o orgasmo;
• As mulheres podem e devem ter orgasmos múltiplos;
• O homem é responsável pelo prazer da mulher;
• A mulher ejacula durante o orgasmo;
• A mulher deve ter orgasmo só com o sexo pênis-vagina.
Não caiam nessa, a sexualidade é muito mais do que isso! O que importa é a satisfação do casal. A disfunção só ocorre quando há insatisfação.

Como a disfunção sexual pode se apresentar?

Segundo a 11a edição da Classificação Internacional das Doenças (CID-11), as principais DSs são:

Desejo sexual hipoativo (DSH), é a ausência ou redução acentuada e persistente do desejo ou da motivação para a atividade sexual que dure pelo menos seis meses e que esteja associado ao sofrimento. Manifesta-se por um dos seguintes critérios:

1) desejo espontâneo reduzido ou ausente (pensamentos ou fantasias sexuais);

2) desejo responsivo reduzido ou ausente a estímulos eróticos e estimulação pela parceria;

3) incapacidade de manter o desejo ou interesse pela atividade sexual, uma vez iniciada.

Disfunção de excitação, é a incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta excitatória adequada (lubrificação, turgescência) até o término da atividade sexual. Disfunção orgásmica/ Anorgasmia, é uma condição caracterizada pela demora persistente ou recorrente ou incapacidade de alcançar o orgasmo após uma fase de excitação sexual normal, resultando em angústia e/ ou dificuldade interpessoal.
Disfunção de dor na relação sexual, que se divide em três principais situações:

1- Vulvodínia: é a dor na vulva sem causa aparente, com duração de pelo menos três meses. Pode acometer toda a vulva ou ser localizada e o surgimento da dor pode ser provocado pelo toque ou ser espontânea, pode ser constante ou intermitente.

2- Vaginismo: é a dificuldade e dor na penetração devido à contração involuntária dos músculos ao redor da vagina e dessa forma estreitam muito a entrada da vagina dificultando ou impedindo a penetração. É caracterizado por pelo menos um dos seguintes critérios:

1- Dificuldade acentuada e persistente ou recorrente na penetração devido a contração involuntária ou tensão dos músculos do assoalho pélvico (MAPs) durante a tentativa de penetração;

2- Dor vulvovaginal ou pélvica acentuada e persistente ou recorrente durante a penetração;

3- Medo ou ansiedade acentuada ou persistente ou recorrente de dor vulvovaginal ou pélvica em antecipação, durante a penetração ou como resultado dela;

4- Dispareunia: é caracterizado por dor ou desconforto genital recorrente que ocorre antes, durante ou após a relação sexual ou penetração vaginal superficial ou profunda, relacionada a uma causa física identificável, como por exemplo a síndrome genitourinária da menopausa e endometriose.

Como é o tratamento da DS?
A disfunção sexual feminina é reconhecidamente de origem multifatorial. É muito importante uma avaliação inicial e um diagnóstico preciso da causa ou das causas desse transtorno.
O tratamento dependerá da origem da disfunção. O uso de medicamentos está indicado para o tratamento das queixas sexuais de origem biológica e psíquica, mas não são necessariamente
indicadas para tratamento de disfunções de causas psicossociais, comportamentais e socioculturais.
O tratamento psicoterápico das disfunções do orgasmo consiste, sobretudo, em reestruturar as inúmeras crenças e os mitos relacionados ao orgasmo, bem como orientar para uma estimulação adequada e o controle da ansiedade.
A terapia sexual é um importante aspecto da sexologia, sendo indicada para o tratamento dos aspectos subjetivos relacionados aos desconfortos na esfera da sexualidade. Pode-se utilizar uma de várias ferramentas de diversas linhas de pensamento, desde que tenha natureza científica e seja aplicada por profissionais com o devido treinamento.
A disfunção sexual é um tema muito extenso e complexo. O meu objetivo aqui foi colocar uma luz sobre esse problema tão comum para que fique claro que existem tratamentos e soluções para cada situação. Procurem sempre um profissional de saúde qualificado para que você seja tratado adequadamente!

Até o mês que vem!!!

 

Por:  Dra. Priscilla Sodré

Ginecologista-Obstetrícia, Mastologista
Médica credenciada pelo General Medical Council

info@messinaclinic.co.uk

www.messinaclinic.co.uk

Tel.: (+44)  020 7846 4434

whats.: (+44) 07941984478

 

Bibliografia
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Lara LA, França SS. Anamnese sexológica. In: Saúde sexual da mulher: como abordar a disfunção sexual feminina no consultório ginecológico. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2022. Cap. 4. p.18-23.
Oliveira FF, Lara LA. Tratamento farmacológico das disfunções sexuais femininas. In: Saúde sexual da mulher: como abordar a disfunção sexual feminina no consultório ginecológico. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2022. Cap. 5. p.24-9.
Lara LA, Oliveira FF. Distúrbio da dor sexual: dispareunia, vaginismo e vulvodínia. In: Saúde sexual da mulher: como abordar a disfunção sexual feminina no consultório ginecológico. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2022. Cap. 7. p.36- 43.
Rufino AC. Técnicas para manejo das disfunções sexuais psíquicas. In: Saúde sexual da mulher: como abordar a disfunção sexual feminina no consultório ginecológico. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2022. Cap. 9. p.55-62.