De pedreiro a médico – Nossa Capa

 De pedreiro a médico – Nossa Capa

A trajetória de um homem vencedor que nunca desistiu dos seus sonhos.

Fernando Rodrigo de Oliveira Silva, é brasileiro, cidadão britânico, casado, tem duas filhas, 40 anos de idade, nasceu na cidade de Belo Horizonte, e atualmente reside em Moscou na Rússia, como médico residente, porém sua residência fixa é em Londres.

De origem humilde, filho de mãe doméstica e pai pintor, ele se formou em bacharel  Teologia Superior pela FATEMIG – Faculdade de Educação Teológica de Minas Gerais (2004) e psicanalista pelo Instituto Avançado Superior de Psicanálise Miesperanza (2007), atualmente conhecida como Miesperanza University Internacional. Logo após a conclusão da faculdade de Psicanálise, ele veio para Londres, com o objetivo de ter uma vida melhor, tanto para sua família como para si estudando a língua inglesa e cursando o Mestrado em Saúde Mental. Ele tornou-se o primeiro brasileiro a se formar em Medicina na Europa. graduado no dia 29 de Junho de 2020.

Ele nos conta sua trajetória muito emocionado e feliz por ter continuado e nunca desistir dos seus sonhos. Começamos te parabenizando Dr. Fernando!

Por favor nos conte como foi que tudo começou?  

Depois que saí do Brasil sozinho e com apenas 50 libras no bolso, cheguei à Londres em 30 de março de 2007, o que para a minha sorte, a imigração não me perguntou a quantia que eu tinha, somente quantos dias eu passaria na cidade, eu disse que somente 4 dias, recebendo assim um visto de 7 dias. Com apenas 7 dias de visto em mãos, os meus planos de estudos do inglês e mestrado mudaram radicalmente, tendo em vista da impossibilidade de realizar tais objetivos com um tempo tão curto de estadia para realizar sonhos de longo prazo. Diante desta situação, tentei arriscar o meu destino e resolvi permanecer em solo inglês mesmo depois do vencimento do visto, pois não me via retornando para o Brasil antes de realizar meu sonho.  Naquela época, quem entrasse como turista recebia um visto de 6 meses e poderia estender o mesmo para o de estudante renovando por até 5 vezes. Logo após 8 meses passados da minha chegada à Londres, trouxe do Brasil a minha ex-esposa e minha filha. Com o passar de 3 anos e 7 meses de visto vencido, comecei a trabalhar focando na obtenção da cidadania italiana para a minha família por descendência paterna da minha ex-esposa, na qual a minha vida passou a mudar a partir deste momento. Residi em Londres por longos 13 anos e 5 meses, período este, sem retornar à minha pátria de origem. Atualmente, moro em Moscou com a minha esposa que é de nacionalidade Russa e a minha filha de 1 ano e meio.

Qual era seu trabalho aqui em Londres?

Durante o período que estive em Londres, trabalhei em duas empresas de construção e carpintaria como labour (servente de pedreiro e fazendo limpezas em construção civil). Eu fazia de tudo um pouco, desde separação de ferro à madeira para reciclagens. Ao longo deste tempo, fui aperfeiçoando os meus conhecimentos por meio de cursos de supervisão, possibilitando-me assim, um aumento maior do meu salário. Trabalhava 15 horas por dia, de segunda à sexta, e nos fins de semana 10h horas, sem folgas e sem férias, visando proporcionar uma vida digna e honrosa para a minha família.

Quando foi que despertou em você a ideia de ser médico? Qual a sua especialidade, quanto tempo de universidade e onde cursou?

A ideia de ser médico vem desde a minha infância, pois sempre fui voltado aos estudos e esta chama ardia em mim fortemente. Depois que divorciei-me em 2011, este grande sonho se intensificou cada vez mais e decidi estudar inglês na escola Oxford College and Trinity College. Após o trabalho na construção civil, dedicava dia e noite para prestar o vestibular de medicina para a primeira academia médica de Moscou, pois era a única universidade aberta para estrangeiros da Europa com a ministração do curso de medicina em inglês. Em maio de 2012, prestei o vestibular e fui aprovado, e comecei o curso de medicina na Primeira Universidade Médica Federal de Moscou, a prestigiada Sechenov University, fundada em 1758, com vários estudantes de todos os continentes.

Cursei medicina por 8 anos (2012-2020), com o título de Médico Clínico Geral Especialista, sou residente em Cirurgia Ginecológica e Obstetrícia com especialização em fertilidade e cirurgias íntimas pela mesma universidade, porém ainda tenho que fazer mais 2 anos de residência médica, tornando-me desta forma, 100% cirurgião.

Como foram esses longos anos de vida acadêmica e de estudos de Medicina?

Bom, todos nós sabemos que Medicina é um curso muito forte, puxado, uma profissão muito nobre e que infelizmente não é acessível a todos que desejam ser médicos. O curso exige uma entrega total para os estudos,  ainda mais no meu caso onde estudei medicina na língua inglesa e querendo ou não em russo, pois muitos dos pacientes não falam a língua inglesa, então somos obrigados a estudar a língua russa para nos comunicarmos com os pacientes a partir do 3 ano de curso. Durante os dois primeiros anos acadêmicos foram muito difíceis para mim, pois o método europeu todas as provas são orais com 2 a 3 professores e não escritas como somos acostumados no Brasil. A cada semestre eu tinha 12 disciplinas para estudar e passar em todas as provas semanais, sendo que, se o aluno fosse reprovado em qualquer disciplina ele repetiria todo o ano letivo para estudar aquela disciplina reprovada, pois na Rússia não existe a possibilidade  de ir para outro semestre com matérias pendentes do semestre anterior.  A carga horária do curso de medicina até o 3 ano era de 10 horas diárias de estudos, de segunda à sexta e aos sábados educação física obrigatória, uma dedicação total ao curso. Durante todos esses anos tive sempre bons colegas que me ajudaram muito com a língua inglesa, pois minha maior dificuldade não era com as matérias científicas, e sim com a língua inglesa por não ser minha língua nativa. Do quarto ano até o sexto você já é direcionado para a área clínica, ou seja, as aulas não são mais ministradas na universidade, mas sim nos hospitais universitários, tendo uma carga horária mais baixa de acordo com cada área médica.

Qual foi seu maior desafio nesse período?

Meu maior desafio durante todos esse anos acadêmicos foi pagar a universidade e me manter financeiramente. O valor da anuidade era de  $12 mil dólares, mais os custos de vida que chegavam a um o total de 19 a 21 mil dólares anuais. Moscou é uma capital muito cara para se viver, e eu não tinha permissão de trabalho e mesmo que eu quisesse  trabalhar eu não conseguiria pois tinha que estudar de segunda a sábado. Nesse caso eu era obrigado a trabalhar todas as minhas férias de inverno e verão em Londres, entre Janeiro e Fevereiro, e de Julho a Setembro na mesma empresa que eu trabalhava antes de entrar para a universidade. Como meus gerentes já me conheciam e como eu tinha somente esses meses para trabalhar, a empresa me colocava nos sites com mais trabalhos possíveis, onde eu trabalhava 20 horas por dia, dormindo dentro do escritório da empresa.  Foram meses e meses de muito trabalho sem ter folga. Desde 2007 que eu nunca mais retornei ao Brasil, eu tinha que escolher em ir ao Brasil visitar meus pais ou trabalhar para pagar a universidade. Durante o terceiro ano de medicina perdi minha mãe ela teve infarto agudo do miocárdio, mas era ela que me dava um pouco de suporte financeiro e com a sua falta as dificuldades aumentaram ainda mais. Foi muito difícil e um choque muito grande, pois além de não ter condições financeiras para ir ao Brasil despedir-me dela, tive que conviver com a realidade de sua morte e não me entregar à depressão. Tive que fazer o meu luto sozinho. Como Psicanalista ajudei tantas pessoas a fazerem seus lutos para superar seus problemas e foi naquela que tive que aplicar as técnicas em mim mesmo para que eu pudesse superar a dor da perda. O sonho da minha mãe era me ver formado e o seu maior prazer era  dizer para as pessoas que eu estava estudando medicina na Europa, como isso não foi possível, sua morte meu deu mais força e garra para superar as dificuldades e ter a certeza de terminar o curso de medicina sem olhar para trás e para as dificuldades, pois eu sabia que elas seriam muitas, mas também sabia que poderia vencer cada uma delas.

 Qual a sua pretensão para o futuro ?

É terminar a minha residência médica e abrir minha Clínica Médica na Europa e UK com um diferencial das outras clínicas de ginecologia já existentes. Como sou Ginecologista e Obstetra, pretendo trabalhar com especialização em fertilização e ajudar casais que tenham sonhos de ter filhos e Cirurgias íntimas para mulheres que se sentem desconfortáveis. Essa é uma área que está sendo muito necessitada por falta de profissionais qualificados e especializados.

Seja qual for a sua situação migratória, nunca deixe que os seus sonhos sejam frustrados por pessoas negativas. Lembre-se que na vida aparecem muitas pessoas para lhe dizer que tudo que você almeja ou deseja é impossível de se realizar, e poucas pessoas para lhe dizer que você é capaz de conquistar o que deseja.  Siga sempre a voz que está dentro de você, pois ela te conduzirá para o caminho do sucesso e da vitória. Acredite que você é capaz de vencer e conquistar qualquer coisa que desejar nesta vida. No versículo de  Filipenses 4:13 diz que:  “Tudo posso naquele que me fortalece “.  Não existe o impossível para Deus, o impossível está dentro do nosso inconsciente pressionando constantemente que não somos capazes de vencer, mas lembre-se que: o possível tem que ser maior em nossas mentes, pois é ele que nos levará para a conquista e as realizações dos nossos sonhos. Tenha em mente que não há vitória sem luta, e não há luta sem vitória. Somente você conhece o gigante que mora dentro de si, e somente você, sozinho passará por toda a guerra e dificuldades, mas com a certeza que sairá dela vitorioso e realizado. “O homem sem sonhos é um homem sem alma, bonito por fora e vazio por dentro”. Nunca pare de sonhar, jamais desista de seus ideais.

Dr. Fernando Silva