Entrevista do Mês: Dra. Josevania Martins

 Entrevista do Mês: Dra. Josevania Martins

Nasceu em Barra Mansa no Rio de Janeiro, porém morou na cidade do Rio, antes de se mudar para a europa. Formada em medicina no Brasil desde 1993, pela Faculdade de Medicina de Valença, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro. Escolheu medicina pois sempre gostou de “resolver problemas” e desde criança gostava de cuidar e oferecer ajuda as outras pessoas e também aprendeu que o conhecimento em medicina lhe daria mais controle sobre sua própria saúde.  Dra Josevania conta que batalhou muito para se formar, passou por algumas dificuldades, pois seus pais eram assalariados e precisou de ajuda do governo, pois gastava muito com moradia, alimentação, livros e também para se manter atualizada. Especializada em ginecologia/obstetrícia no Brasil e médico em saúde reprodutiva e saúde sexual – Mestrado em Londres – UCL Londres.

Segue entrevista completa:

O que levou a migrar para o Reino Unido? 

Eu conheci meu marido no Brasil e após o nosso casamento ele não se adaptou no país. E também não acho que o Brasil um país seguro para alguém que não fala a língua portuguesa.

Foi difícil poder exercer a medicina aqui na Inglaterra? 

Tirar o registro não foi difícil, por ser casada com europeu, mas para conseguir trabalho foi bem difícil, pois eu não fiz meu treinamento em medicina em um país europeu.

O que leva os brasileiros a procurarem seus serviços? 

Acho que a facilidade de entender a língua, eu atendo em horários marcados para não deixar o paciente esperando, fazemos consulta domiciliar, coleta de exames e oferecemos privacidade completa, pois atendemos muita gente famosa. Os tratamentos/medicamentos oferecidos são os mesmos ou parecidos com os do Brasil. As mulheres brasileiras não gostam de fazer exames ginecológicos com enfermeiras ou GPs. O problema é que para se ter uma consulta com ginecologista, o GP tem que encaminhar e isso leva no mínimo 2 semanas dependendo da gravidade, e se ele acredita que a paciente não precisa, não envia para o especialista. Desde o início deste ano o financiamento do NHS mudou, agora quem controla o budget (valor total do dinheiro recebido) são os GPs e cada vez que a paciente é mandada para o hospital/especialista o GP  tem que pagar, então  eles tentam tratar tudo alí mesmo e evitar gastos. Temos todas estas questões que permeam o NHS (sistema de saúde pública).

A medicina brasileira é diferente da medicina inglesa? 

As escolas de medicina no Brasil  entre 1988 e 1993, seguiam a escola americana, mais intervencionista e mais médico centrada. Este modelo funcionava bem pra um país como a América onde não existia um sistema público de saúde (agora tem), onde todos pagavam pela saúde. A escola européia é mais humanista e paciente centrada. Acredita em tratamentos holísticos e mais naturais, como  por exemplo: medicina chinesa e acupuntura. Acredito que é difícil a aceitação para  brasileiros ter um sistema que oferece a enfermeira pra fazer seu exame ginecológico e GP para tratar quase todas as doenças. Um exemplo, no Brasil se você tem um problema de epilepsia, você vai direto ao neurologista, aqui mesmo que você tenha plano de saúde o GP tem que fazer uma carta, e tudo fica ligado ao NHS.

Muitos brasileiros dizem que médicos do Reino Unido dão diagnóstico errado, isso é verdade? 

Eu não posso dizer que são diagnósticos errados, mas eu sei que a consulta do GP dura somente 10/15 minutos o que deixa pouco tempo pra ouvir o paciente, examinar, pedir exames e prescrever. Uma vez que o NHS está sobrecarregado e com o número de pacientes crescendo a cada ano. Por isso, eu não acredito em diagnóstico errado, mas falta de tempo para investigar melhor os pacientes.

Muitos brasileiros reclamam que vão aos médicos daqui e são instruídos a apenas tomar paracetamol sem serem tocados. Por que nós brasileiros temos um costume diferente? 

Uma coisa bem marcante é que temos pessoas de diferente religiões e culturas. Muitas mulheres ou mesmo homens somente aceitam ser tocados/examinados por alguém do mesmo sexo, até pra fazer ultrassom transvaginal nós médicos somos aconselhados a pedir consentimento por escrito. Outra dificuldade durante a consulta é a barreira da língua, pois gera muitos mal entendido, e levar um interprete muitas vezes atrapalha a privacidade do paciente. Em conclusão, muitas vezes nem o médico nem o paciente conseguem se comunicar.

Nós brasileiros, temos algum aspecto de saúde ao qual nos diferenciamos dos ingleses?

Os médicos brasileiros são formados seguindo o padrão americano, e quando os brasileiros chegam aqui, se deparam com o modelo europeu, o que é um choque. O paciente brasileiro, gosta de ser examinado, investigado e gosta de conversar sobre o resultado dos exames, o que não acontece aqui. Geralmente os exames ficam no arquivo médico e muitas vezes o resultado é enviado por mensagem de texto, e o pior, o paciente não sabe o que o resultado enviado significa. Assim, o paciente fica se sentindo em segundo plano o que gera insatisfação e insegurança.

Existe algum cuidado especial que nós brasileiros devemos tomar aqui no Reino Unido? 

é importante o paciente ser capaz de entender a língua, isso dá mais segurança para perguntar e questionar sobre o tratamento oferecido pelo GP no ato da consulta. Outro ponto é ter em mente que a consulta dura no máximo 15 minutos. Então, tentar ser objetivo quanto aos sintomas/queixas para salvar tempo, pois se reclamar de 10 coisas diferentes na mesma consulta, o GP não vai ter tempo de resolver todas elas em um dia. Último aviso, se o paciente realmente não confia no GP em que foi cadastrado, tente se cadastrar em outro. Porém, isso vai depender do endereço que será fornecido.

Vive  aqui no Reino Unido há 5 anos e atende em sua clínica.

Dr Vania – Health Care em Hampstead, 49 Netherhall Gardens NW3 5RJ